As start-ups como empresas com uma ainda relativa curta duração, à partida, não possuem um grande conhecimento (empírico e teórico).

Por não terem passado pelas experiências que o contato com o mercado proporciona, estão, à partida, em desvantagem comparativamente às empresas estabelecidas, os incumbentes. Mas se esta fosse uma verdade imutável, então como podem as start-ups vingar e ter sucesso na sua competição com as incumbentes?

Tendo trabalhado em ambos os tipos de empresas – start-ups e incumbentes – e mais recentemente paras ambas como consultor, conselheiro e formador, e presentemente a pesquisar o tema da competitividade, parece-me que este é um tema que vale a pena analisar em mais detalhe.

Na iminência de defender o meu doutoramento dei comigo a pensar em como a ciência pode ajudar as start-ups. Ciência é um esforço neutro, rigoroso e sistemático que constrói e organiza o conhecimento na forma de explicações e previsões testáveis sobre o universo. Numa definição mais lata, refere-se a qualquer conhecimento, compreensão, saber (estar a par), ou prática sistemáticos. E daí?

O conhecimento acumulado das incumbentes pode ser um fardo extremamente pesado de carregar. Pensemos na quantidade enorme de informação existente, modos de trabalhar e procedimentos que é necessário respeitar devido à dimensão da organização, ou sistemas legacy – sistemas cuja manutenção, ações de melhoria ou a integração com novos sistemas é difícil, devido à complexidade da sua arquitetura ou pela tecnologia em que foram desenvolvidos. Uma efetiva Gestão do Conhecimento (Knowledge Management) ajuda, mas quantas empresas têm esta competência?

Poderíamos ser levados a pensar que as start-ups não têm estes problemas de sistemas e gestão do conhecimento. Os sistemas são state-of-the-art, muitas vezes são criados especificamente para o negócio, ou até como modelo de negócio. E como a organização ainda é relativamente pequena, a comunicação e gestão do conhecimento adquirido é ainda eficiente. No entanto, as start-ups enfrentam o desafio da geração do conhecimento. É exatamente aqui que a Ciência pode ajudar!

A ciência pode ajudar as start-ups de duas formas. A primeira é óbvia. Capitalizar no conhecimento existente e disponível num mundo hiperligado. O mote aqui é não reinventar a roda. É crítico saber ter acesso ao conhecimento, ou seja, identificar o que é verdadeiramente conhecimento e onde o podem “adquirir”. Como na maior parte dos casos, as start-ups constroem em cima de capacidades técnicas únicas, por vezes até explorando resultados científicos de investigação e desenvolvimento, e o desafio está em usar as ciências da gestão ou do marketing.

A segunda forma não é assim tão óbvia. Traduz-se na geração de conhecimento de mercado e da competitividade. Para gerar este conhecimento é necessário tornar a start-up numa learning organization, ou seja, numa organização que aprende o mercado e como competir no mesmo, capitalizando nos fatores de geração de valor. Para ser uma learning organization a organização necessita de Competitive Intelligence, o processo e práticas orientadas ao futuro usadas na produção de conhecimento sobre o ambiente competitivo para aumentar a performance das organizações (Madureira et al., 2021). E também aqui a ciência desempenha um papel crítico, pois é necessário que o Competitive Intelligence seja uma ciência. Ou seja, é necessário que este esforço de geração de conhecimento seja neutro (não enviesado), rigoroso e sistemático e se traduza na forma de explicações e previsões testáveis sobre o ambiente competitivo.

Start-ups do mundo, imaginem ter à vossa disposição conhecimento não apenas técnico, mas de carácter de gestão e marketing que vos permita competir com a experiência das incumbentes. Mais, aliar à vossa vantagem competitiva tecnológica, a vantagem competitiva do conhecimento e da competitividade. E com a oportunidade de implementar estas vantagens competitivas do zero, com sistemas state-of-the-art, e de uma forma ágil. A ciência do Competitive Intelligence pode bem ser a “arma secreta” que as start-ups precisam.

Referências:

Madureira, L., Popovič, A., & Castelli, M. (2021). Competitive intelligence: A unified view and modular definition. Technological Forecasting and Social Change, 173, 1-17. [121086].
https://en.wikipedia.org/wiki/Science
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia#Etimologia_e_defini%C3%A7%C3%A3o

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Luís Madureira - People Talent

Luís Madureira

PhD COMPETITIVE INTELLIGENCE SCIENCE
MANAGING PARTNER @UBERBRANDS

CI Fellow | Executivo | Consultor | Keynote Speaker | Educador | Chapter Chair

Fundador, Managing Partner e Chief Innovation Officeer da ÜBERBRANDS, uma boutique de consultoria estratégica que suporta as organizações a navegar com sucesso o ambiente competitivo.

Previamente foi Global Competitive Intelligence (CI) Practice Lead da Ogilvy Consulting.

Possui uma vasta experiência internacional em Consultoria e na indústria de Bens de Grande Consumo (Diageo, Coca-Cola, PepsiCo, Red Bull, United Coffee, e Heineken) onde desempenhou funções de liderança em CI, Estratégia, Marketing, e Vendas, a nível internacional e global.

Recebeu o estatuto de CI Fellow pelo The Council of CI Fellows, o maior reconhecimento em CI, em 2018.

É Chairman do SCIP Portugal Chapter e Keynote Speaker a nível internacional.

Autor do SMINT, a primeira abordagem de CI em tempo-real, assim como do INNOVaction, um programa de inovação end-to-end.

Doutorado em Gestão de Informação – Sistemas de Informação e Suporte à Decisão – pela NOVA IMS e Collaborator Researcher do MagIC. Licenciado pela NOVA SBE em Economia e certificado como Competitive Intelligence Professional (CIP-II) pela Academy of Competitive Intelligence e Certified Social Intelligence Professional (CSIP) pelo Social Intelligence Lab.

Ver currículo científico na ORCID

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